do tempo da delicadeza

nasci em 1978, mais precisamente, em 11 de janeiro de 1978 e nesse ano completei 68 anos. não, veja bem, não é erro de cálculo nem nada. tenho, realmente, 68 anos.

explico: em cada ano, envelheci 2. deixei de ser jovem há muito tempo e parece que cada dia eu envelheço mais e mais, descontroladamente. perdi toda minha paciência para experimentações, fusões, recortes, remixes, colagens, coletivos e tudo mais. considero tudo chato, muito chato.

certo dia, uma amiga comentou que foi convidada para uma balada onde haveria jazz experimental. já torci o nariz quando ela falou “balada”, que me remete automaticamente à música alta, djs, luzes que não te permitem enxergar nada, bebida quente e a impossibilidade de se conversar com alguém. farei uma confissão: tenho certeza que o que vai acabar com a humanidade não será nenhum desastre ambiental, nenhuma crise financeira ou nenhum vírus: a humanidade se desintegrará por causa da música alta, que arrebenta com nossas conexões neurais. aliás, já falei que não considero dj um músico e nem música eletrônica como música. talvez não, mas deixo isso para depois.

onde eu estava? ah, certo. pois bem, ela foi para uma balada com jazz experimental e eu pensei: deve ser algum antro em que as pessoas praticam heresias do tipo blasfemar contra so what, mas não: o jazz experimental não era nem jazz, nem música: era uma improvisação com barulhos.

de forma que, como percebe-se, não gosto de novidades. aliás, não gostar é pouco. não suporto. sou tradicional, tradicionalíssimo, daqueles que ainda compram cds em lojas. gosto de clássicos, de coisas estabilizadas.

hoje fui assistir ao “o artista”. na década do avatar e dos anti-higiênicos óculos 3-d, fui assistir a um filme mudo. mudíssimo, eu diria. e como é lindo e o melhor adjetivo para ele é: cinematográfico.

cinematográfico porque ele é cinema puro. ele fala de arte, fala de resistência, fala de beleza e fala de delicadeza. é filme para aqueles que gostam de filmes!

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