ouvindo sampa no ipod

não me lembro exatamente quando, mas houve na minha infância dois momentos especiais:

um, foi quando vim para são paulo com o pessoal do fisk, da bucólica santa bárbara, para um curso. viemos de viação piracicabana direto para a rodoviária do tietê. era de manhã, a rodoviária estava lotada e o metrô idem. aquele empurra que todos nós conhecemos mas, para aquele caipira, o empurra era parecido com o apocalipse e o inevitável aconteceu: a porta fechou-se em mim e o segurança do metrô, jogando-me para dentro, gritou “fica esperto, mané!”

outro, foi quando eu vim para cá com o meu tio zé para fazermos compras para sua confecção na 25. o caos, o acúmulo de gente, os comerciantes jogados ao longo do chão me assustaram, mas vou ser sincero, me fascinaram. depois desses dois episódios, de uma certa forma eu já sabia que moraria em são paulo.

quando prestei vestibular em 1999, fiz 4 opções: jornalismo na cásper líbero, na usp, na unesp de rio de claro e na unicamp. entretanto, passei “apenas” na cásper e na unicamp e, por motivos financeiros, acabei estudando na unicamp.

foi a grande decisão da minha vida. morar em campinas e estudar em campinas transformaram-me no que sou hoje, para o bem ou para o mal. aprendi a amar campinas, fazê-la o meu porto seguro e a unicamp tornou-se o local onde conheci muitos de meus companheiros de jornada.

morei em campinas de 2000 a 2006 e sempre ia para são paulo visitar meus amigos, curtir uma baladinha, beber umas cervejas, mas o meu desejo de morar aqui adormeceu. campinas estava se tornando minha cidade, mas algo aconteceu.

mas, em 2005, conheci a denise e, em 2005 casei com a denise. sabia que ia viver com ela para o resto da minha vida. ela tinha morado em campinas, mas agora morava em são paulo e, de repente, aquele desejo de mudar para são paulo que, no parágrafo anterior eu declarei que estava adormecido, voltou à tona.

confesso, havia a possibilidade da denise morar em campinas. só que, sempre que ia para são paulo vê-la e sempre que andávamos pela paulista, sentia um arrepio na espinha. e, sabe, se ao andar pela paulista, você sentir um arrepio na espinha, saiba: você TEM que morar em são paulo, urgentemente.

em 2007, sem pensar, mudei-me para são paulo. sabe, uma mulher é igual à são paulo. uma coisa é você torná-la seu amante, visitá-la apenas quando o tesão dá as ordens e outra coisa é você casar com ela. morando em são paulo, perdi o comando sobre a relação. não iria mais para são paulo apenas quando quisesse, ou apenas para aplacar o meu tesão e minha saudades. daquele momento em diante, passei a conviver com são paulo diariamente, na alegria e na tristeza.

confesso que o trânsito, a pobreza e o barulho me impressionaram. agora mesmo, numa tarde ensolarada de um feriado, ouço o barulho de uma britadeira. pensei, 6 meses depois em desistir, pois estava entendendo que são paulo não seria para mim além de uma pretensão de um eterno caipira.

sabe, toda vez que esse sentimento batia, eu ia para a paulista, tomava um café e respirava fundo. meus pulmões, obviamente, gritavam, mas minha alma se confortava e se certificava de que realmente são paulo seria minha cidade.

ainda hoje, a pobreza, o trânsito e o barulho me incomodam. entretanto, sou um entusiasta da cidade democrática, mas injusta que é são paulo. com o passar dos anos, descobri o centro, a rua augusta e a possibilidade das mais variadas pessoas conviverem, nem sempre pacificamente.

aprendi, em 5 anos, que são paulo é a cidade brasileira por excelência. pulsante, retrógoda, bonita, decadente, miserável, rica, vanguardista e passadista.

“e esse sou eu, na esquina de novo. tudo é tão novo quanto essa canção. será que alguém presta atenção” (Ouvindo Sampa no Walkamn, Eng. do Hawaii)

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